Eu já estava apavorado bem cedo pela manhã. Temia ser forçado a cursar o Tiro de Guerra. Cheguei ao quartel da cidade sem atraso. Desci do ônibus com cinco minutos de folga e apertei o passo para entrar a tempo. Ter começado a faculdade provavelmente me anistiaria do serviço militar. A dispensa médica eu não tinha conseguido. Havia insistido com o avaliador alegando que meu pé era chato e que eu passara por uma intervenção no cóccix. Ele me sorriu com indulgência, mas se ateve à disciplina e carimbou minha ficha como apto. O portão do quartel estava aberto. Sua guarda era feita por um menino como eu, só um ano mais velho, decerto cumprindo seu fim de serviço. Eu não sabia se lhe devia continência, aceno ou distância. Na dúvida, apenas o olhei de leve arremedando respeito, mas seu olhar rígido não cruzou com o meu. Depois de algumas passadas já dentro do pátio, porém, sua voz me atingiu pelas costas: — Está atrasado! Começou às oito! Anda! Olhei para trás e reco
Contos breves de Paulo Santoro [paulosantoro.com]