No caminho até a quadra poliesportiva no fundo do pátio, percebi que o colégio que me contratou para arbitrar a competição não tinha nenhum negro entre seus alunos. Posso notar o fato logo, mas não vou protestar no jornal. Não estou no mundo para fazer revolução, por mais que me critiquem. Falta-me consciência de classe? Pessoas de todas as cores praticam ações que me embaraçam como ser humano. O que me faz lembrar aquele dia aconteceu mais tarde. O jogo começou e as equipes eram equilibradas. Defendiam as turmas de estudantes. Era a partida entre, digamos, a sala 11 contra a sala 16 — grupos formados dois meses antes, em parte por sorteio, numa papeleta pautada da secretaria, mas que lutavam encarniçados como se fossem religiões milenares. O adolescente que brincava de técnico de um dos times cumprimentou-me com educação e talvez até com dentes claros, antes do início. Ao longo da partida gritou muito com seus amigos e me fez perguntas. Irritou-se apenas de leve com algum
Contos breves de Paulo Santoro [paulosantoro.com]